o velho
"E foi ali que o viu..."
Estava um fim de tarde muito quente, o ar irrespirável não permitira que Zeferino saísse para o campo com os animais que, indolentes, não arredaram pé da casa que os protegia do sol e do calor.
As poucas árvores que havia na grande planície pareciam morrer de falta de ar e de água, não havia sombra que pudessem oferecer o que noutras estações quentes não faltara.
Era, Zeferino, um homem do campo, trabalhava de sol a sol, a chuva no inverno não era muita, cultivava o pedaço de terra daquela vila alentejana.
Tinha ajuda de um rapagão que fizera o segundo ciclo, não queria seguir estudos, os animais eram mais importantes.
A mãe morreu jovem, tinha ele doze anos. Não conheceu o pai. Diziam ter ido para a capital.
Criou-o a tia, com os quatro filhos que teve. E que emigraram.
Ficou sozinho a cuidar da terra e das ovelhas.
Não conhecera mulher.
Os pensamentos perdiam-se na solidão daquela planície, até que, junto às árvores, alguma coisa mexia-se na terra seca.
Correu na sua direcção.
Um homem desfigurado pelas rugas profundas do seu rosto, erguia a mão a pedir ajuda.
Pegou nele e levou-o para dentro de casa. Deitou-o na cama que era sua, limpou-lhe o rosto com água, passou-lhe a toalha pelos lábios gretados. E fê-lo beber a água fresca do cantil.
O velho pegou-lhe na mão, apertou-a com força.
- Quem será este velho? Será quem ele pensa que é? Porque o abraçou daquela forma?
Zeferino sempre esperou que um dia o pai viesse procurá-lo.