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o outro cantinho da Maria

este cantinho é um complemento ao cantinho da casa onde publicarei as minhas leituras, os desafios e as minhas fotografias.

o outro cantinho da Maria

15
Jan22

uma história de amor

Maria Araújo

este post da Isabel levou  a Ana a contar uma história.

E a Ana desafiou-nos também a contar a nossa.

Quero esclarecer que este texto foi retirado, e adaptado para este fim, de uma obra de ficção, escrita criativa, a quatro mãos, em 2008, e que resultou num "livro" guardado no nosso pc.

Gostei de recordar o que escrevi/escrevemos, passaram estes anos todos e pouco me lembrava da história que foi este senhor (o co-autor) que começou.

Então, fica a minha contribuição em " Queres casar comigo?"

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Enquanto esperava por Lúcia na Gare do Oriente, Alberto pensou naquele distante dia em que também a foi esperar ao comboio, nessa altura, em Santa Apolónia. Do almoço de então, da conversa, do nervosismo dela, também do passo decidido e ousado que ela resolveu dar.

Tinha-se saído muito bem no seu papel, tão bem que depois teve alguns convites para outros filmes. Recusou todos. Disse-lhe a ele, um dia, que só foi actriz por causa dele. Que quando o viu a primeira vez lá naquele cafezinho do Porto, ficou de tal maneira impressionada que iria com ele até ao fim do mundo. Por isso, e só por isso, se metera naquela aventura. Mas que a sua vida não era aquela. Queria ter uma vida estável, segura, sabendo sempre o que fazer no dia seguinte.

Agora com uma filha, quando Lúcia lhe disse isto já tinha a Maria Luís, sentia-se muito bem…Sentir-se-ia muito melhor com ele por perto. Mas também sempre soubera que isso não aconteceria. Bastava-lhe saber que ele continuava seu amigo, que aparecesse de vez em quando e que se interessasse pela filha. Agora…outros filmes, outras aventuras…definitivamente não!
O comboio entrou na gare, foi reduzindo a velocidade até parar.Começaram a sair os primeiros passageiros, os que saem sempre a correr, os que parece que já estão a correr ainda dentro do comboio, e, lá ao fundo, apareceu o vulto de Lúcia puxando a sua maleta. Menor que a outra de há uns anos, que quase não coubera no carro.

Alberto estava semi-encoberto a apreciá-la.Ela levantava a cabeça a ver se o via, um sorriso a iluminar o rosto onde brilhavam aqueles olhos que foram o que primeiro atraíram Alberto, já lá iam mais de onze anos.

De repente, ele apareceu-lhe à frente, abraçaram-se, ele levantou-a no ar, beijaram-se e ficaram assim uns momentos a olhar um para o outro, recebendo encontrões das outras pessoas.
- Estás mais novo! Mais bonito! Ficas ainda melhor assim sem a barba…
- Tenho que me defender…Já me apareciam muitos pêlos brancos, tenho de começar a tratar da minha imagem…- disse a sorrir, enquanto lhe pegava na mala e avançavam pela gare adiante.
- Deve ser para agradar às meninas…
- Também… Pelo menos parece-me que gostaste deste meu novo visual. E a Maria Luís, como ficou?
- Triste, coitada. Bem queria ter vindo.
- Calculo. Também tenho muitas saudades dela. Mas dentro de pouco tempo voltarei e vamos ficar uns dias juntos os três.
- E tu, sentes-te bem? Falas sempre de mim, da filha e nunca de ti… Como te sentes?
- Eu estou bem, Alberto. Já te disse várias vezes. Ando bem com a vida, acho que sempre andei. Melhor…só se tu estivesses mais perto…mas isso já tu sabes.
Fez-se um silêncio.

Entretanto, meteram-se num táxi que os levou ao hotel.
- Vamos ao hotel, descansas um pouco, depois vamos jantar. Já marquei mesa, calcula onde?
- Gostava mais de ficar contigo no hotel, agarradinha a ti a ouvir as tuas histórias, aquelas histórias que só a ti acontecem, ou que só tu inventas…
- Estás a chamar-me mentiroso, ou inventor…
- Não. Estou a dizer que te amo, ou ainda não entendeste?
- Entendi. Mas gosto de ouvir isso.

O restaurante não ficava muito longe do hotel. De mãos dadas, foram a pé. Era o mesmo onde há onze anos atrás tinham ido jantar. Ficava num dos bairros de Lisboa. Um espaço pequeno onde, naquela altura, se comia muito bem, esperava ele que nada tivesse mudado.
- Lembras-te como vinhas vestida? Parecias uma cereja…
- Que tu terias comido de boa vontade…
- Eu?!
- Tu e as tuas estatuetas…
Alberto soltou umas das suas risadas.
- Sabes que ainda não tinha ouvido essa gargalhada? E estava com saudade.
- Não tenho rido muito ultimamente…
- Porquê? Andas triste?
- Não direi triste. Mas ando esquisito. Chateado, talvez…
- Com alguma coisa ou com alguém?
- Não sei, acho que comigo, com a vida. Ando saturado. Estou a precisar de fazer qualquer coisa de diferente.
- Mas tu sempre adoraste a vida que levas…Pelo menos sempre disseste isso.
- Sim, sempre fiz o que gosto, mas cheguei a um ponto em que já não tenho o mesmo interesse. Devo estar a ficar velho… Estou mesmo a ficar velho… O que até é uma verdade. Acho que é uma necessidade de mudança. Mudança de vida, mudança de interesses, mudança de ares talvez, também. Vou dizer-te uma coisa…
De repente, ele aperta a mão dela com força, aponta para a calçada onde alguém teria vincado na pedra a pergunta," Queres casar comigo?".
Ela olha o chão, dá uma gargalhada, e responde " Quero!"
Acabaram os dois a rir, de braço dado, de tal maneira que as pessoas que com eles se cruzavam também sorriram ao ver aquela boa disposição.

 

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